Experiências adversas precoces : ajustamento psicológico e resiliência em jovens em acolhimento residencial

Abstract

Os jovens colocados em casas de acolhimento residencial (AR) demonstram maior risco de vivenciar experiências adversas precoces (EAP), sendo que esta exposição pode ter implicações na sua saúde e bem-estar que se podem prolongar ao longo da vida. Esta investigação analisou a prevalência de EAP nos jovens em AR em comparação com a população normativa e a relação entre o número de EAP vivenciadas e o seu ajustamento psicológico e resiliência. O estudo procurou, adicionalmente, explorar a relação entre o histórico de EAP e a idade biológica, idade aquando do momento de acolhimento, duração do acolhimento e satisfação com o acolhimento. Previamente à realização do estudo, jovens em AR foram ouvidos quanto à pertinência, relevância e adequação da metodologia de investigação, respeitando o direito das crianças à participação nas questões que lhes dizem respeito, nomeadamente, na investigação científica em proteção infantil. Este estudo assumiu uma metodologia intra sujeitos, transversal, quantitativa. A amostra foi constituída por 51 jovens em contexto de AR, com idades entre os 13 e os 24 anos, que responderam ao Questionário da História de Adversidade na Infância para apurar o número de EAP, ao Questionário de Capacidades e Dificuldades (DPQ) para avaliação do ajustamento psicológico e à Escala de Resiliência Reduzida, para avaliação da resiliência. Adicionalmente, recorreu-se a um questionário sociodemográfico para recolha de dados sobre os jovens e a um questionário de avaliação da sua satisfação com as casas de AR. Análises estatísticas de diferenças e correlação entre as variáveis foram realizadas. Verificaram-se valores elevados de EAP nos jovens em AR, superiores à população de referência. Não foram observadas correlações estatisticamente significativas entre as variáveis estudadas nem se verificaram diferenças com significância estatística no histórico de EAP.

Youth placed in residential care (RC) demonstrate a higher risk of experiencing adverse childhood experiences (ACEs), and this exposure can have implications for their health and well-being that may extend throughout their lives. This study analyzed the prevalence of ACEs among youth in RC compared to the normative population and the relationship between the number of ACEs experienced and their psychological adjustment and resilience. Additionally, the study explored the relationship between the history of ACEs and biological age, age at the time of placement, duration of placement, and satisfaction with placement. Prior to conducting the study, young people were consulted regarding the relevance and appropriateness of the research methodology, respecting children's right to participate in matters that concern them, namely, research on child protection. This study adopted an intragroup, cross-sectional, quantitative methodology. The sample consisted of 51 young people in a residential care setting, aged between 13 and 24 years, who responded to the Adverse Childhood Experiences Questionnaire to assess ACEs, the Strengths and Difficulties Questionnaire SDQ) for psychological adjustment, and the Brief Resilience Scale for resilience assessment. Additionally, a sociodemographic questionnaire was used to collect individual data and a questionnaire to assess youth satisfaction with RC facilities. Statistical analyses of differences and correlations between variables were conducted. High values of ACEs were found in youth in RC, higher than the reference population. No statistically significant correlations were observed between the variables studied, nor were there statistically significant differences in the history of ACEs.