Lugares da memória no projecto de arquitectura

Abstract

Tempo e Memória como objecto de estudo, como matéria de análise, como matéria-prima da arquitectura; formas de inscrição e corporificação. Se se tomar a construção do tempo como a inscrição de imagens num determinado suporte espacial e a memória não apenas como o conjunto dessas imagens, mas também como o conjunto de relações que elas estabelecem entre si, admitindo o seu carácter dinâmico e evolutivo, estar-se-á perante o jogo de sombras através do qual a memória se expressa e estrutura. Um sistema de relações que associa ideias, conceitos, sensações, factos, objectos, acções, mais ou menos óbvios ou aparentes, que provoca reacções, que gera comportamentos, que estimula a imaginação, que produz conhecimento. Também a arquitectura pode ser entendida como um sistema de relações, em muito semelhante ao da memória, o que revela uma associação natural explicada pelo tempo e a suspeita de que a primeira não existe sem a segunda. Admitir que esse sistema, que esta dissertação pretende reflectir, assenta em processos de complexa definição, sujeitos a inumeráveis factores, muitos deles de ordem subjectiva, implica riscos incalculáveis, tanto no método e na estrutura como na linguagem ou no resultado, mas também no possível interesse que uma perspectiva multi-referencial por vezes acrescenta. Ainda assim, pretexto para uma discussão da presença da memória no desenvolvimento do projecto de arquitectura: as relações que, a vários níveis, se estabelecem entre uma e outro; as formas como a memória se manifesta e se corporifica nos diferentes estádios de concepção (antes de ser arquitectura) e até como se transforma depois de concluída a obra – comportamento face à passagem do tempo, ao uso e ocupações. Da definição etimológica, dicionarizada e enciclopédica ao cruzamento de algumas concepções científicas provenientes de diversas áreas do conhecimento; da memória individual à memória colectiva; da fisiologia cerebral e dos seus mecanismos à construção do tempo e à sua leitura histórica; das principais linhas da investigação em curso aos limites do saber contemporâneo; da inscrição das marcas no tempo à sua interpretação e aplicação futura; da descodificação dos sinais e da articulação multidisciplinar na identificação e construção dos lugares; da sua decadência e retorno ao estado puro (ruína) à sua preservação, transformação e sublimação mais ou menos simbólicas; da memória como corpo de referenciação colectivo à conservação do património histórico; da separação, integração e/ou metaforização da memória no projecto de arquitectura através da análise crítica de três exemplos distintos – casos de estudo.

Time and Memory as subject of study, as matter of investigation, as architecture´s raw material; ways of inscription and embodiment. Taking the construction of time as the inscription of images in a specific spacial support and memory not only as the whole of those images, but also as the set of relationships established between them, admitting their dynamic and evolutive character, we would be beholding the shadow game through which memory expresses and structures itself. A system of relations which associates ideas, concepts, sensations, facts, objects, actions, more or less obvious or apparent, that provokes reactions, that generates behaviours, that stimulates imagination, that produces knowledge. Architecture can also be understood as a system of relations quite similar to memory's, which shows a natural association, explained by time and the suspicion that the former does not exist without the latter. To admit that that system, which this dissertation aims to reflect, is based on processes of complex definition, subjected to countless factors, many of which of subjective nature, implies inestimable risks, concerning method and strutcture as well as the language or the results, but yet to the possible interest that a multi-referencial perspective sometimes adds. Still, an excuse for discussing the presence of memory in the development of the architectural project: the relationships established between one and the other at various levels; the ways memory manifests and embodies itself in the different phases of conception (before turning into architecture) and even how it transforms after the work is finished – its reaction to the passage of time, its use and typologies of usage. From the etymological definition, dictionarized and encyclopedic, to the intersection of some scientific conceptions arising from several fields of knowledge; from individual to colective memory; from brain physiology and its mechanisms to the construction of time and its historic interpretation; from the running main vectors of investigation to the limits of contemporary knowledge; from the inscription of the signs onto time to its interpretation and future application; from deciphering the signs and the multidisciplinary articulation in the identification and construction of places; from its decadence and back to the purity state (ruin) to its preservation, transformation and sublimation more or less symbolic; from memory as body of colective referring to historic heritage conservation; memory's separation, integration and/or metaphorization in the architectural project through the analysis of three different examples: case studies.